#90. Anatomia de um clássico IV: Sapatos - O Couro

20 de julho de 2012



O ideal é atingirmos um ponto de equilíbrio entre o custo da qualidade e o preço de tudo que compramo, mas se existe uma peça no armário masculino que não é fácil pechinchar, é o sapato. s. É possível comprar um terno barato e ajustá-lo em um alfaiate para deixá-lo com um ótimo caimento. É possível usar uma camisa que não vista tão bem e deixá-la escondida por baixo de uma jaqueta. Gravatas e outros acessórios podem compor muito bem um visual mesmo sendo baratos e vai ser muito difícil alguém notar. Usar sapatos ruins sem parecer óbvio já é muito mais complicado. Solas finas de borracha tem uma aparência barata e ficam terríveis com o uso. Couro ruim, além de poder maxucar, também se desgasta de uma forma horrível.

O fato de um sapato ser  feito de couro não garante quer dizer que ele é feito de algo bom. Como qualquer outro material, existem diferentes níveis de qualidades disponíveis no mercado. Sapatos muito baratos usam couro mais barato, que se desgastam mais rapidamente e tendem a rachar com o tempo. Sapato mais caros por sua vez, são feitos de couro mais caro e melhores (ou assim deveria ser). Estes por sua vez, vão ficar mais bonito com o tempo, vão durar anos, ou quando bem cuidados, décadas. 

Existem sapatos feitos de diversos couros exóticos, mas para mim o couro bovino é o que mais equilibra a durabilidade, a versatilidade e a estética. Abaixo algumas das principais variações e suas vantagens ou desvantagens. 

Full Grain Calf Skin: Um sapato feito de couro bovino pode estar utilizando materia-prima de vários níveis de qualidade. O melhor dele é o chamado "Full Grain". É o couro bovino com os seus poros naturais. A peça de couro utilizada na fabricação não apresentava defeitos ou marcas, e por isso precisou ser lixada e nem desbastada para se esconder as falhas da flor (superfície). Este tipo de couro costuma ser curtido na base do cromo, que lhe proporciona elasticidade e resistência, mas também pode ter o curtimento vegetal. O couro vegetal se conforma mais fácilmente, porém não é tão elástico. Um dos sinais de um bom sapato pode ser o uso de couro com curtimento vegetal, já que a forma será perfeita para o pé e ele irá tomar a forma exata para acomodar os movimentos e características do usuário. Em ambos os casos é melhor que seja tingido com anilina. Pelo que eu entendi é um processo no qual é absorvida pelos poros do couro sem formar uma camada superficial. Os poros (ou grãos) continuam intactos, dando força e durabilidade para a fibra. Os poros também permitem que o couro respire, resultando em menos humidade acumulada durante o uso. Um sapato de couro assim vai durar anos. A sola irá se desgastar muito antes do couro, e se você tiver o custume de trocá-las, e de cuidar do sapato, ele pode durar décadas.


Sapato de 4 anos, couro em ótimo estado e pátina adquirida com o uso.
Couro Corrigido: Uma das maiores armadilhas é o “couro corrigido", como o da foto abaixo. Pelo que vejo nas lojas, a maioria dos sapatos no Brasil é feito de alguma variação deste tipo. Uma pele de animal tem as suas imperfeições, marcas e cicatrizes que as tornam impróprias para ouso em calçados. No caso do couro corrigido, muitos fabricantes preferem utilizar opções mais baratas, literalmente lixando o couro até remover todos os seus defeitos, e depois tratando-o químicamente para criar uma superfície artificial. Um atalho para economizar ao invés de escolher apenas as melhores partes do couro. O resultado é um sapato que fica parecendo plástico, com um brilho bastante uniforme e artificial, bonito quando novo mas que tende a rachar com o tempo, chegando até mesmo a revelar outra cor por baixo. Além disso a camada cobre todos os poros, impedindo a respiração da superfície e absorção de qualquer tentativa de engraxar ou polir o calçado. Fique longe, mas se não tiver opção, nunca pague muito por um sapato deste tipo. 

Um sapato com 1 ano, feito de couro de baixa qualidade "corrigido", todo rachado.







Camurça: A camurça pode ser feita de diversos animais. Cada couro vai resultar em uma camurça diferente. A camada de pele exterior da peça é desbastada com algum tipo de abrasivo até ser removida completamente. O resultado será um couro macio e aveludado. A camurça também pode ser feita pela parte de baixo, o resultado será mais grosseiro. A manutenção de sapatos de camurça é bastante simples, mas é preciso tomar alguns cuidados para evitar contato com líquidos que podem manchar. É talvez uma das opções mais fáceis de se baratear, pois não há uma grande diferença visual entre uma excelente camurça e uma boa camurça. Mas fique longe de sapatos que parecem um bicho felpudo.



"Patent Leather": É o chamado de "Verniz". Antigamente este tipo de couro costumava ser feito através do tratamento natural com óleos, mas hoje em dia é algo bastante artificial. Nada mais é do que o couro com uma camada brilhante de plástico por cima. Bastante artificial. Neste caso o objetivo da camada não é esconder os defeitos, mas sim deixar o sapato com uma aparência super lustrosa. É mais utilizado em sapatos bastante formais a serem usados com fraques. Este couro é impermeável, e para limpá-lo basta passar um pano húmido. Particularmente eu não gosto. De qualquer forma, a aparência e o brilho não me agradam, e acho que um sapato preto bem lustrado e engrachado fica bem mais bonito.

Sapato de Patent Leather
Shell Cordovan:.Não encontrei a tradução para este termo porque os curtumes que encontrei na internet não tem uma grande variedade disponível, e as lojas de sapatos do Brasil são bastante "obscuras" a respeito de que couro o sapato utiliza. O "shell cordovan" não deve ser confundido com a cor "cordovan". Ele é feito da parte de trás do cavalo, onde o couro é mais grosso. São sapatos mais caros porque a matéria prima não é tão comum.


Os sapatos de shell cordovan são bem grossos e extremamente duráveis. Levam um pouco mais de tempo para amaciar e são mais resistentes a água. Os vincos formados com o seu uso são diferentes do couro bovino, e são bastante apreciados por algumas pessoas. O shell cordovan forma ondulações e rolos, enquanto que o couro bovino tem linhas mais finas e definidas. Este tipo de couro tem um brilho lustroso por causa de óleos naturais provenientes do processo de tratamento do couro. Ele requer cuidados diferentes, sem o uso de cera para polir, e adquirem um lustre profundo, diferente do brilho espelhado de um sapato de couro bovino.

Diferença dos vincos formados com o uso: Na esqueda o couro bovino, na direita o shell cordovan






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