O passar dos anos dos meus velhos jeans

31 de agosto de 2012



Ontem recebi um e-mail com o primeiro capítulo de um livro chamado “O Casaco de Marx”.  O livro parece ser sobre a força constutiva do vestuário e a preservação dos traços de pessoas nos objetos físicos. O importante na leitura foram estes dois trechos.

“A mágica das roupas está no fato de que ela nos recebe: recebe nosso cheiro, nosso suor; recebe até mesmo nossa forma” e “As roupas recebem a marca humana. As jóias duram mais que as roupas e também podem nos comover. Mas embora elas tenham uma história, elas resistem à história de nossos corpos. Duradouras, elas ridicularizam nossa mortalidade, imitando-a apenas no arranhão ocasional” e “Por outro lado, a comida que, como as jóias, é uma dádiva que nos liga uns aos outros, rapidamente torna-se nós e desaparece. Por outro lado, a comida que, como as jóias, é uma dádiva que nos liga uns aos outros, rapidamente torna-se nós e desaparece. Tal como a comida, a roupa pode ser moldada por nosso toque; tal como as jóias, ela dura além do momento imediato do consumo. Ela dura, mas é mortal.”

Hoje em dia muita gente acha que se vestir bem é acompanhar as tendências e ter um guarda roupa com as últimas novidades. Os problemas que eu vejo de se fazer isso são: Primeiro você acaba consumindo artigos que estão na ponta da curva, e por isso são mais sucetíveis aos ciclos da moda. Segundo, é que pouca gente consegue realmente sustentar renovar o guarda roupa toda estação, e por isso, o provável é que a qualidade seja jogada de lado para dar lugar ao volume. O resultado, como disse Bruce Boyer, é que as pessoas que fazem isso parecem saber tudo sobre roupas e tendências, exceto como apreciá-las. Querem o produto mais recente e as marcas mais bacanas do momento, mas passam a sensação de que não gostam, ou não sabem usar da maneira como deveriam.

Eu já fui assim. Grande comprador da Zara e até tive uma calça laranja nos anos 90, na época que todos os meus amigos estavam usando. O resultado é que eu acabei me desfazendo dessas peças sem nem ter tempo de torná-las realmente minhas. Esse também é o problema com as coisas que são mal feitas, já que elas não resistem ao tempo e o uso. O autor Marcel Basthos resumiu muito bem quando escreveu que “assim como um bom vinho, uma escultura em bronze, ou uma tela a óleo, é apenas com o passar dos anos que roupas e sapatos realmente de qualidade adquirem o caráter próprio que lhes confere individualidade e dignidade”. 

No filme “The Philadelphia Story”, com Cary Grant, Jimmy Stewart e Katherine Hepburn, a pesonagem de Hepburn é uma jovem de família tradicional que vai se casar com um aspirante a político que tenta parecer chique e sofisticado. É aquele cara com o nó da gravata perfeitamente simétrico e tudo bem calculadinho. Uma de minhas cenas favoritas do filme é quando ele chega para andar de cavalo com um traje de montaria todo engomado. A personagem de Katherine Hepburn zomba dele, dizendo que ele parece ter saltado da vitrine de uma loja. Ela o joga no chão e, depois de passar um pouco de poeira nas calças e nas botas, diz “Agora está melhor”. Ele fica confuso e comenta que passou a vida inteira economizando para sempre estar com roupas novinhas. 

Existe uma cor de calça, um tom de vermelho, que se chama “Nantucket Red”. É um vermelho meio desbotado que é característico do vestuário conhecido como “preppy”. Esse estilo é derivado das famílias tradicionais de classe alta dos Estados Unidos. Esse vermelho e outros tons pastéis sempre estão nas listas de “como se vestir preppy” que os blogs publicam. Acontece que as as roupas dos preppys tradicionais não saiam da loja com esses tons desbotados. Elas ficavam assim depois de serem usadas e queimadas pelo Sol. Podiam ser facilmente substituidas, mas a roupa desbotada era um símbolo de que o dono estava aproveitando a vida: velejando, navegando e passeando por aí, tudo que somente um ricasso pode fazer.   

É engraçado ver que neste contexto de muita afluência, e do dinheiro ligado a famílias antigas, um certo desleixo com sinais externos de riqueza pode ser um símbolo poderoso. Se você tem dinheiro suficiente para ficar comprando produtos de luxo, você também tem dinheiro suficiente para não estar nem aí se a sua calça é vermelhinha novinha, ou se alguém vai ver o “H” de Hermes gigante na fivela do seu cinto. Se você realmente anda a cavalo, as suas roupas de cavalaria vão mostrar isso.

Isso é ainda mais verdadeiro em países que tem uma ética protestante, pois as roupas são símbolo do trabalho e da jornada da vida. O Príncipe Charles por exemplo, é famoso por usar sapatos com reparos e por aparecer em públicos com ternos gastos nas pontas da manga. Todas essas roupas foram feitas sob medidas por grandes mestres. São impecáveis em caimento e em todos os outro sentidos. Os seus únicos defeitos não são realmente defeitos, são apenas a roupa incorporando a vida do seu dono. Usá-las com orgulho é um ato de respeito a vida que construiram dentro delas e também ao ofício do mestre que as fizeram.

Os jeans desbotados, tentam reproduzir a beleza das calças surradas da antiga classe trabalhadora. Quase toda as marcas "fashion" tem uma bota de couro todo surrado. Assim como o jeans, a bota era um calçado utilizado no campo e no trabalho pesado. São sapatos que sempre foram feitos para durar e aguendar muita pancada. Os calçados de couro com aparência de velhos tentam reproduzir artificialmente a pátina e cicatrizes que o bom material adquire naturalmente com o tempo. Tentam imitar a beleza do caráter e da forma adquiridos com o uso. 

Eu acho que o conceito por trás disso vem da idéia de que se você aparece para uma profissão todo limpinho quer dizer que você nunca colocou a mão na massa. O mecânico só apareceu de roupa limpinha no seu primeiro dia de aprendiz. Ele sabe que sua roupa só vai ficar suja depois de muito trabalho duro. Ou sei lá, o calo nos dedos de um músico. É mais ou menos o mesmo pensamento do prepy tradicional e da personagem do filme filha da aristocracia. Eu gosto de pensar que se uma pessoa assim me visse com um par botas que já vieram detonadas, ela iria saber na hora, começar a rir da minha cara e me falar "Você não fez por merecer, garoto". 

É por isso que eu gosto tanto de duas calças jeans que tenho. Não consigo parar de usá-las. Comprei ambas totalmente brutas, sem nenhuma lavagem. Eram duras para caramba e bem rígidas. Hoje, elas são macias e tem um formato que eu sei que é meu. Estão marcadas pelas viagens que fiz, as festas que fui, o tempo no ônibus com meus colegas do esporte e até o meu primeiro emprego. Foi com uma delas que eu vi a neve caindo pela primeira vez, com outra eu subi até o topo de um vulcão no Hawaii. Passei o ano novo na Itália junto com minha família e namorada usando uma dessas calças. Alguns lugares mais desbotados são de andar de bicicleta, outros furinhos e rasgados são de alguma aventura, tipo explorar uma caverna em Budapeste. Um deles, tem a marca de celular no bolso que me lembra do meu nokia antigo. Ano passado eu coloquei na cabeça que estava na hora de aposentar uma delas, e comprei uma nova igualzinha. Até hoje não usei direito, mas serviu para fazer comparação, e é bom saber que tem uma tela vazia esperando para ser preenchida:

A.P.C. - Nova
A.P.C. Usada. Ela era igual a calça ai em cima.
Outra velhinha, a "Tradicional". Era toda azul escura.
Coisas velhas e gastas pelo próprio suor são de luxo. Percebe quanto esforço foi necessário para conseguri esse tipo de lavagem que a Ellus e a Diesel ficam tentando obter com tecnologia? Por quantos lugares eu tive que caminhar? São cicatrizes de guerra sem ter que tomar uma espadada ou flechada. Tem gente que é paga para ficar bolando novas lavagens, mas nunca vai conseguir fazer todos os risquinhos ficarem exatamente nos lugares certos. O resultado são aquelas marcas de atrito obviamente artificiais no meio da batata da perna ou em outro lugar que o ser humano não tem articulação.

Quando eu estou triste porque passei muito tempo sentado no meu computador eu olho para esses dois pobres coitados, confortáveis para caramba, e me lembro de quanta coisa boa já fiz e ainda posso fazer. Minha dica: quando tiver escolha, não compre produtos desgastados artificialmente. Faça por merecer. Compre eles brutos e vá viver. Aproveite o processo.

Industry of All Nations: Roupas sustentáveis

30 de agosto de 2012

apc faja belt

Semana passada eu participei de um evento chamado Youth ToBusiness que teve um workshop sobre Negócios Sociais, que são negócios de empresas que, através de sua atividade principal, oferecem soluções para problemas sociais, utilizando mecanismos de mercado. Geralmente eles vendem um produto ou serviço que contribuem para melhorar a qualidade de vida da população de baixa renda, e esse produto ou serviço é capaz de sustentar a empresa de forma que ela não dependa de doações. É fácil imaginar um negócio social como uma empresa que pega algum produto que temos e começa a distribuir em regiões de baixa renda. Mas já pensaram em como podemos usar nossos conhecimentos de mercado e acesso a pontos de venda para ajudar as regiões de baixa renda a nos oferecer seus produtos e tradições?
De certa forma é isso que a Industry of All Nations faz. A idéia começou em 2010 em um escritório de design e desenvolvimento com o compromisso de repensar os métodos de produção e conectar produtores locais com a moda mundial. Eles procuram por mercadorias regionais que são apresentadas ao publico global sem ter a sua identidade e modo de fabricação descaracterizados. Além disso eles desenvolvem projetos e levam as idéias diretamente para as regiões onde os produtos e materia primas são inerentes,  capacitando a mão de obra e fazendo parcerias com empresas locais para vender a um nível global. Comprometimento com a consciência ambiental e social, promoção do comércio justo e desenvolvimento de fronteiras abertas para todas as nações. 

Eles tem uns tênis muito legal feito no Kenya em uma fábrica que usa materiais 100% Africanos. Jeans feitos com algodão da Índia tecido completamente a mão, sem máquinas, costurado todo a mão, e tingido manualmente com o índigo de uma planta; tradições antigas de uma região do sul da Índia. Outra peça que eu gostei muito é um suéter de lã de Alpaca tricotado no Peru em parceria com uma ONG que trabalha para melhorar as condições das mulheres de baixa renda. Vocês podem ler mais sobre a Industry of All Nations e seus projetos neste link, tem fotos bem legais e mais informações sobre cada região e os detalhes de cada parceria.

A primeira coisa que comprei da IOAN foi um cinto/faixa de tecido com uma variação em cima da padronagem típica dos índios Mapuche. Foi feito na Argentina com algodão argentino tecido a mão. 


Cinto de tecido

Agora comprei uma pantufa super confortável feita no México. Ele é de lã com o forro interno de fibras sintéticas e acolchoado. A sola é de borracha natural. Não sei se vou ser Hugh Hefner suficiente para sair na rua com eles, mas são ultra confortáveis para ficar dentro de casa ou ir rapidinho na padaria aqui do lado.

Industry of All Nation Cabrales

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Wooden Sleepers: O melhor do vintage na internet

29 de agosto de 2012

Brian Davis, dono da Wooden Sleepers (foto por Ryan Plett)
A internet é a melhor vitrine para encontrar o vintage. E o melhor lugar continuam sendo os sites de fora do país porque o máximo que você vai achar no Mercado Livre é um boneco original de cavaleiros do zodíaco e quando você recebê-lo vai perceber que é falsificado. A grande diferença dos brechós do Brasil para os do exterior é o volume de mercadoria antiga que sobreviveu aos tempo por serem extremamente bem feitas e ainda mantém o seu valor hoje. É dificil achar esse tipo de produto por aqui.


Essa coisa de comprar coisa vintage pode ser mais trabalho do que vale a pena caso você não conheça os lugares certos para procurar. Vou recomendar a Wooden Sleepers como ponto de partida. O dono, Brian Davis, passa grande parte do tempo viajando para todo lado visitando “junkyards”, “garage sales”, garimpando pelo que há de melhor no meio de um monte de produtos mofados. Pelo que li por aí ele já se tornou uma espécie de Mestre dos Magos do vintage nas ruas de NY.



Vai saber o que mais ele faz, porque de vez enquando consegue encontrar peças históricas raríssimas e muitas vezes únicas, do tipo que você não vai encontrar em mais nenhum lugar. É provável que ele já tenha vendido alguma peça vintage para a maioria de nossos estilistas estavam buscando referências. O resultado são mercadorias vintage de qualidade excepcional, que ele coloca na sua loja no Etsy, a Wooden Sleepers.



Se você gosta de peças vintage a Wooden Sleepers deve estar favoritada no seu browser. Lá você vai encontrar camuflados autênticos, tênis militares antigos e produtos old school de marcas famosas. É sua responsabilidade acompanhar todo lançamento para ser o primeiro a pegar aquela jaqueta da navy da primeira guerra mundial ou quem sabe uma blusa de flanela usada pelos primeiros lenhadores. Além disso da para acompanhar os produtos que ele favorita no próprio etsy, e dessa forma descobrir outros vendedores muito interessantes. Esperando o que, comece a garimpar!


Tênis da marinha Italiana
Jaqueta vintage autêntica do exército americano
Camisa vintage autêntica do exército americano
Camisa Vintage da Gant (Shirtmaker)
Anorak vintage da Land's End
Camisa de barquinho vintage
Sapato de couro entrelaçado vintage

Fiz Uma Página no Facebook

No primeiro post que fiz eu contei como comecei a escrever (escondido) para colaborar com o sonho de outra pessoa. Fiz um blog para poder compartilhar o que ia descobrindo caso alguém estivesse procurando. Deixei ele quietinho e de vez em quando uma ou outra coisa que escrevia devia aparecer nas pesquisas, porque aos poucos teve gente que começou a ler. 

Resolvi fazer uma página no facebook para oferecer um lugar para que aqueles que compartilham do meu interesse possam interagir em portugues, dividir novidades, dar dicas de coisas legais, trocar figurinhas e bater um papo de nerd sobre a indumentária masculina de modo geral; já que é muito difícil achar um grupo de homens para conversar do assunto. É aí que entra a internet!Não sei se vou ter a paciência de mantê-la, mas minha idéia é colocar na página todos os links com conteúdo bacanas que eu encontrar por aí e poder conversar um pouco sobre elas ao invés de ficar olhando sozinho para a tela do computador. 


Quem estiver lendo o blog, ou por acaso vier parar nele, e quiser um clubinho para poder falar de moda/roupas/estilo/etc masculino sem se sentir dentro da gaiola das loucas, basta clicar alí do lado e seguir o blog no facebook.

Ovadia & Sons Outono/Inverno 2012

28 de agosto de 2012


A maioria das marcas de roupa iniciantes começam devagar. Fazem umas camisas estampadas e deopis vão acrescentando o resto do guarda roupa. Por questões financeiras também comprometem a qualidade para poder dar a luz a pelo menos um produto. Isso ajuda a testar o mercado e deixa tempo para aprimoração do projeto. Os gêmeos Ovadia ligaram o dane-se e em Junho de 2010 lançaram uma coleção completa totalmente do zero. A primeira coleção já foi de ouro e as coisas só ficaram melhores nas temporadas seguintes. No segundo ano já concorreram ao prêmio de melhor designer de roupas masculinas dos Estados Unidos.

Hoje lançaram o lookbook da coleção de Outono/Inverno 2012. Fico até com medo de dizer isso, mas acho que é uma das coleções mais bonitas que já vi. O que estes irmãos estão criando com a Ovadia &Sons é realmente algo especial. A apresentação dos produtos é fantástica e a composição das produções impecáveis. Desmembre os looks e preste bem atenção em cada peça e veja por si mesmo.

Consegui ver a coleção passada pessoalmente na C’H’C’M e posso atestar pela qualidade e atenção ao detalhe. As roupas são fabricadas nos Estadus Unidos com tecidos de primeira qualidade obtidos nas melhores fábricas do mundo. Pelo que me lembro os sapatos são feitos na Inglaterra e as gravatas também. Com exceção da silhueta slim eu acho que eles passam longe das coisas “trendy” e estão bem mais para alfaiataria clássica e peças icônicas do vestuário masuclino. Calças de lã com bainha italiana, blazers de tweed com o detalhe do botão na lapela, jaquetões de abotoamento duplo, camisas com spread collar, cardigans de tricô grosso e xalé, jaquetas de couro e calças cargo militar, chapéus, etc. São trajes que um homem usaria - no campo, na cidade, ou dentro de casa - em épocas passadas quando a moda masculina era ditada pela nobreza Inglesa. Os produtos da Ovadia & Sons injetam uma nova abordagem nas cores e formas dessas peças do vestuário masculino do velho mundo.












Timex: Opção de relógio simples, versáteil e por míseros 30 dolares

27 de agosto de 2012


A maioria das pessoas não precisa de um relógio de pulso para saber as horas. Estamos em 2012 e o celular que carregamos é mais do que suficiente. Para mim hoje em dia os relógios assumiram basicamente o papel de enfeites, mas continuam sendo o único acessório completamente aceitável para um homem usar. Então para que desperdiçar a oportunidade.

Se não precisamos do relógio para nos dizer as horas e também não precisamos que ele tenha o calendário estrelar, medidor de pressão e válvula de hélio. Entendo que muita gente gosta de todas aquelas funções e ponteiros - afinal o relógio que compramos é determinado por nosso estilo de vida e preferências pessoais - mas eu não mergulho em alto mar e não pretendo ir a lua. Na ausência de qualidade, muitas vezes é melhor se contentar com a simplicidade, e isso os modelos Timex Easy Reader e Timex Weekender tem de sobra. Simples, versáteis e por míseros 30 dolares, por que não? 



Se o preço te deixa desconfiado, não se preocupe, a marca também tem cerca de 150 anos de tradição fazendo o que faz de melhor: relógios baratos e confiáveisA história da Timex passa por três fabricantes de relógios Americanos do século dezenove. Começou em 1850 com a Waterbury Clock que fabricava relógios de estante bem baratos mas com design inspirados nos importados. Em 1880 a empresa irmã Waterbury Watch fabricou o “Waterbury”, o primeiro relógio de bolso com preço acessível. 


Relógio Waterbury de 1880
O terceiro foi Robert Ingersoll, que em parceria com a Waterbury Watch criou em 1900 o modelo “Yankee”, o primeiro relógio de bolso a custar apenas um dolar. Foi usado por todo mundo, de Mark Twain até mineradores. O produtos da Waterbury seguiram uma longa tradição de inovações na fabricação de relógio que se desenvolveu em Connecticut, nos Estados Unidos. No século dezenove, a região ficou conhecida como a “Suiça das Américas”.


Yankee 1990 - 1 Dólar
Durante a primeira guerra mundial, o exército Americano pediu à Waterbury Clock que transformassem o Yankee em um modelo de pulso para se adaptar às necessidades dos soldados. Depois da guerra os veteranos continuaram a usar os seus relógios de pulso, e não demorou muito para que os civis aderissem a moda durante a década de 1920. 


Yankee da Primeira Guerra: Metal fosco para evitar reflexos, números  florescentes contrastando com o fundo escuro.
Em 1930 a popularidade de um tal de Mickey Mouse levou a Waterbury a produzir o primeiro relóginho do Mickey da história, com a permissão exclusiva de Walt Disney. Na época eles custavam $1,50 e hoje são itens de colecionador.


600 mangos no Ebay
Veio a Segunda Guerra Mundial e a quase falida Waterbury foi comprada. Trocou de nome para U.S. Time Company, e transformou as suas fábricas para fabricar exclusivamente suprimentos para a guerra. Depois da guerra o novo dono resolveu aproveitar as pesquisas e desenvolvimento da produção em massa para criar o primeiro relógio barato e totalmente mecânico do mundo. O novo relógio de pulso ganhou o nome de Timex, e estreou em 1950. 

O marketing foi genial. Eles apareceram em anúncios sendo usados por batedores de baseball, colados em hélices de motores de popa, girando durante sete dias em um aspirador de pó, preso nas pinças de uma lagosta gigante, ou amarrado em uma tartaruga em um tanque d’água.  Mesmo depois dessas e de outras extensas seções de “tortura”, o Timex continuava funcionando perfeitamente. 


As idéias não pararam por ai, os espectadores enviaram milhares de sugestões para futuros testes, e um sargento da Força Aérea chegou a se oferecer para bater um avião enquanto usava um Timex. No final da década de 1950 um a cada três relógios comprados nos EUA eram um Timex.

                                 

Em 1960 a marca estava na boca do povo. A empresa decidiu diversificar sua linha de produtos e introduziram o “Cavatina”, seu primeiro relógio feminino. Com ele veio um novo conceito de marketing: o relógio como compra de impulso. Por preços baixos uma mulher podia comprar vários relógios de várias cores para combinar e estar pronta para combiná-los com qualquer roupa em qualquer ocasião. Os avanços  tecnológicos levaram a melhorias nos movimentos dos relógios e na década de 1970 a Timex Company já havia vendido mais de 500 milhões de relógios mecânicos. Na época, um a cada dois relógios vendidos nos Estados Unidos era um Timex.



Com a crise provocada por novas tecnologias e a forte competição dos fabricantes orientais a Timex foi aos poucos diminuindo a sua produção de relógios mecânicos para focar no mercado digital, e em 1986 fez uma parceria criativa com atletas e introduziu o modelo “Ironman”. Em apenas um ano o Ironman já havia se tornado o relógio mais vendido dos EUA, e na década de 1990 já era o relógio mais vendido no mundo inteiro. 

O Ironman você conhece. Quando eu ainda estava no colégio se você tivesse um relógio desse você era automaticamente uma pessoa legal. Para ficar mais legal ainda era preciso deixar a pulseira de metal um pouco larga e dar aquela chacoalhada de vez em quando para lembrar os perdedores a sua volta quem é que era o alfa da sexta série. As inovações não param por aí: Em 1992 a foram os primeiros a produzir um relógio com luzinha, aquela verde.


Quando compro um relógio eu tenho em mente uma combinação de três fatores: o artesanato, a estética e a tradição do fabricante. A estética é subjetiva, mas o artesanato e a tradição não. Até gostaria, mas não tenho dinheiro para começar uma coleção de marcas renomadas pelo artesanato. Também não acho uma boa pagar mil reais por um relógio de quartzo feito por uma grife de roupas. A estética será genérica e neste caso a marca no relógio não transmite tradição e nem qualidade. Um relógio igual certamente pode ser comprado a um preço mais barato e provavelmente ter o mesmo mecanismo.

O Timex Easy Reader lembra muito aqueles primeiros modelos produzidos pela Waterbury, e é praticamente idêntico ao primeiro Timex. É um design que venceu o teste do tempo e perdura desde 1880. O Weekender é inspirado nos primeiros relógios militares, com o fundo escuro e números claros em uma caixa fosca. Até hoje estes modelos não me decepcionaram. O Weekender fica excelentes com trajes mais casuais, e o Easy Reader com uma pulseira de tecido fica ótimo para deixar um traje formal um pouco mais descontraído ou então tornar um traje casual um pouco mais arrumado. Já a pulseira de couro com relógio de face branca é a opção mais elegante para um traje formal. 

A Timex tem mais de um século de tradição fazendo relógios baratos e duráveis. Considero-a uma marca não me engana e entrega o que oferece, relógios baratos e sem artifícios de design para esse fato. E para mim isto é o bastante. Melhor ainda que por U$ 30 eles passam voando pela alfândega sem imposto nenhum. 

John Lobb, Redwing e Oak Boots - Fabricadas hoje mas com gosto do passado


Assistir a pessoas produzindo algo com suas próprias mãos sempre emociona o artesão (incompetente) que existe dentro de mim. Gosto de saber que ainda existe quem mantém viva as tradições e preza pelo cuidado de um mestre pelo seu ofício. São coisas fábricadas nos dias de hoje mas com um gostinho do passado.

Dizer que um sapato é custurado manualmente não costuma impressionar, mas quando paramos para observar o processo de se costurar cada sapato ponto a ponto, o fato de ser feito a mão passa a ser muito mais apreciado. 

Os videos abaixo foram filmados em três fábricas diferentes: Redwing, uma tradicional fabricante de botas americanas, John Lobb, tradicional fabricante de sapatos inglês, e Oak Street, que tem uma história bem mais recente. A John Lobb e a Redwing mantém vivos anos de história e o ofício de seus fundadores sem nunca abrir mão da missão de fábricar produtos de qualidade, que vão muito além de modismos. A outra marca nasceu a menos tempo, mas já começou com a missão de fábricar calçados clássicos da maneira tradicional. 

O que as três tem em comum é o fato de estarem fabricando calçados do jeito mais caro e difícil. Manualmente e nos seus respectivos países, onde a mão de obra é mais cara. Qualquer marca no mundo que esteja fazendo as coisas dessa maneira, mantendo vivo o trabalho manual em um mundo que segue cada vez mais o caminho da velocidade em troca da qualidade, merece ter a sua história contada.


Oak Street Bootmakers from Common Machine Prod. on Vimeo.


Red Wing Handsewn Collection | Made in Maine from Red Wing Heritage on Vimeo.


John Lobb

Publicado originalmente no Vovó era New Rave

As cores do Kodachrome

24 de agosto de 2012

Comecei a todo dia levar a minha irmã para o estágio, e semana passada eu tive que levar o carro para arrumar o freio de mão. Tirei o meu Ipod do porta luva para ir ouvir música enquanto ia para casa a pé e esqueci de colocar de volta depois que busquei o carro. Quando começou o horário de propaganda política a única coisa que tinha no meu carro era o meu cd do Simon & Garfunkel - Live in Central Park. Ainda bem, porque a harmonia da voz deles só pode ser comparada a do super grupo Crosby, Stills, Nash & Young.

Me lembrei de umas fotos que eu tinha colocado no blog do Vovó era New Rave com uma coletânea de fotografias que vi a muito tempo atrás no ACL e resolvi colocá-las de novo aqui. São lindas fotografias analógicas tiradas com os filmes kodachrome. Aproveite para escutar uma músiquinha enquanto ve as imagens. Era uma época sem filtros de Iphone. Já dizia Paul Simon:

"Kodachrome
You give us those nice bright colors
You give us the greens of summers
Makes you think all the world's a sunny day, oh yeah."
Kodachrome by Simon And Garfunkel on Grooveshark













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